quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ana e seu retrato


Ana não sabia andar na linha. A única linha que conhecia era do seu corpo e da meada dos seus desejos. Nenhuma linha finita interessava, porque Ana é infinda no que sente, no que vive e no que a faz tremer. Porque nada que não tivesse gosto de mel e féu simultâneamente a interessava.

Andou uma época, é bem verdade, procurando sua paz. De fato, empenhou esforços nessa decisão. E enfim, a encontrou. Paz. Mas o fato é que desde então tinha de volta suas noites de sono, dormia tão profundo que anestesiava. E Ana não gostava das noites bem dormidas. O que lhe aguçava mesmo os sentidos era ir e vir entre uma lua e outra.

Aquela paz era tão morna, que Ana mal suportava. Descobriu, então, que gostava de viver entre vulcões. No calor da lava que lava a alma. Porque não era puta, tampouco se assemelhava a qualquer santidade. Mas gostava de sentir a iminência do queimar.

Olhava para a porta e aquela paz a sufocava. Quase como um ato de desespero, Ana pegou sua bolsa e o dinheiro que havia em cima da mesa. Calçou o seu habitual salto doze, se maquiou de urgência, de paixão.

E ali encontrara sua paz. Bem ali, no turbilhão do que se sentia. Nas possibilidades que se escancaravam no exato momento em que batera a porta e saíra. E dessa vez, sem hora para voltar.

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