segunda-feira, 26 de julho de 2010

Escala Latina

Índios habitavam em paz as suas ocas
Até que as raposas deixaram suas tocas
Vieram pelo mar com a cruz e a espada
Pra roubar e violentar a nova terra imaculada

Pretenciosos, senhores da razão
Queimaram na fogueira o valor da intuição
Extermínios, catequeses e a 'Santa' Inquisição
São séculos de crimes, tortura e escravidão

Navios negreiros não cruzam mais o oceano
Mas o trabalho e o dinheiro continuam escravizando
Impondo ao mundo a cultura do capital
Materialismo, acumulo e o pensamento individual

Abstrairei os ataques da propaganda
E os valores egoístas que eles vêm para pregar
A mentira secular de trabalhar para viver
E a rotina angustiante de viver pra trabalhar

A concorrência de mercado e a histeria produtiva
A sociedade de consumo e seu sentido sem sentido
Marginalizam o ócio e a vida contemplativa
Sufocando almas num deserto criativo

Navios negreiros não cruzam mais o oceano
Mas o trabalho e o dinheiro continuam escravizando
Impondo ao mundo a cultura capital
Materialismo, acúmulo e o pensamento individual

O sangue e o suor os povos do mundo inteiro
São oferendas colocadas no altar do Deus dinheiro
Mas essa forma de existência desumana e limitada
Será em breve abolida e pelo amor superada

Um fato sabido é que o luxo só resiste às custas de muita miséria e o bem-estar social é privilégio de poucos que se pratica uma lavagem cerebral disfarçada com o nome de entretenimento, mas mesmo diante da maior das atrocidades não experimentaremos sentimentos como o ódio e o desprezo ao invés disso nossos corações transbordarão amor e compaixão.

"Conciencia de não ter conciencia." TF
Morrer ou deixar de existir?

Livrem-se de qualquer manifestação humana sem fins justos. Enquanto fabricam desejos conscientes de iludir pela semelhança, muitos acreditam na concretização desses desejos, fazendo deles um meio para se alcançar benefícios individuais.Se a beleza de se sentir belo fosse a mais atraente não estaríamos contemplando novos ideais sem sentido, não estaríamos nos analisando todo o tempo e não iríamos implorar para ter uma aceitação de todos. Qualquer manifestação que seja direcionada para a satisfação de um desejo de um só indivíduo é injusta, é um impacto muito forte nas estruturas emocionais dos insatisfeitos com sua própria existência. Qual o mais perfeito metódo de se atingir a catarse? Não há como desvendar o sentido dos três tempos em que classificamos para se ter conhecimento total de nossas passagens pela vida do passado e do presente que almeja um futuro.O passado é castigado por nossas parcelas de erros, já sabendo que é humano nascer e que é humano pecar, já sabendo que é desumano viver sem sentir e morrer sem ter vivido. O presente é o descontentamento maior, é raíz sem fim que cresce em busca de um sucessor que não assume seu papel de forma clara nessa vasta hierarquia do desenvolvimento. O futuro é esse tal sucessor do presente que nunca assume o comando, é sempre uma promessa que não se cumpre, é sempre a continuidade imaginária da raíz do presente, do fruto do passado que influencia em sua sobrevivência chamada ilusão.
Apanhar da necessidade é fundamental para amar-se e amar a vontade da sobrevivência, é ignorar os três tempos inventados que nos dividem em fases de sentimentos de angústia. Desesperar-se em plena correnteza faz com que a origem seja a fonte de culpa, daí, retorna toda a visão para o sentido de todas as coisas de natureza frágil, como o próprio momento em que passamos a existir, em que passamos a nos compreender e nos analisar como verdadeiro homem capaz de odiar e amar ao mesmo tempo, capaz de sofrer pelo ódio de não conseguir amar, e aprender a criar forças sentimentais para não se deparar com a fraqueza da frieza humana.Mas finalizamos frios, apáticos com nossas ações sem controle, com nossos meios de se conquistar o prazer pelo ódio e ódio pelo prazer. Se há gastura no amadurecimento é por tamanho infausto de ser condenado pelo asco da falta de sentido da sobrevivência.
Racionalizar pelo própio valor sentindo o desafinar do ritmo da vida é bastante asqueroso, causa uma arritmia constante, um cansaço interno com fortes delírios que alimentam a incapacidade de se imaginar vivendo, de voltar a praticar os desejos básicos do corpo, talvez até que podemos recusar a consequência da morte em um plano espiritual, e então aceitar de vez a incalculável dimensão da não-existência.

Catarse

Este desembarque de emoções
Conduz o mar doce de sonhos
Que mergulha nesse rio salgado de amor
Paralisado pela correnteza
Que estaciona a euforia em nosso calor disperso
Que só funciona como deve quando sente
Que só sente como deve quando nunca inicia
É tanto paradoxo que nem se altera
Este calor se perde em seu próprio incêndio
Por sentir que é amor o que não tem nome
Por sentir que a dor é finita deixa queimando
Porque no fundo o que sente traz um sentido
O sentido de que nem tudo que nos trava freia o coração.

"Desejo é fome de desejo que morre faminto"TF

Aperto

O estranho dono do peito
É o aperto persistente sem piedade
Desprovido de alma por ser predador
E dar íncio aos nossos castigos.

Tamanha coerência não nos assume apenas em dor
Nos assume em um papel de invalidez
Em um quadro ausente de força total
E em um movimento circular de dúvidas.

Na verdade amamos a verdade
Que não nos ama, nem se aproxima
Mas é nesse mesmo doer sem sabedoria
Que a atração não há de morrer

Será delicadamente alimentada
Seduzida mesmo sem maiores poderes
Visada como uma presa inofensiva
E distraída para nos manter sãos.


" Tem gente demais nesse mundo para poucos, onde até os grandes se acovardam em seus colos de horror, nessa poça onde retiram em substância a angústia e com pena de não mais temer conserva sua permanência."TF
O retorno

Retorna a esperança
Numa porção de atrevimento
Escondida em seu direito
Em seu embalo sem medida

Retornam os que nasceram
Para a dor não os consumir
De infinita licença sem permissão
Que faz arder por sentir o que faz sentir

Retornam os que já morreram
Em plena invisibilidade constrangida
Como se despidos estivessem
Como se feridos permanecessem

Retornam os que pouco respiraram
Os que nasceram já conhecendo a morte
A vida foi só um detalhe inútil
Um meio pra se alcançar o fim

Retornam os sábios e os poetas
Os que entendem o sofrimento
Como dois amantes se entendem
Como dois inimigos se conhecem

E assim então retornam os mitos
Deus está aqui
Uniformizado pela fé
Daqueles que vivem com ela
E morrem sem nada.

"A fraqueza do forte se encontra na agressão"TF
"Calar-se é fazer do silêncio o abrigo interno, fazer de si um modelo de pensamento, iluminar-se de entendimento profundo sobre a necessidade de viver um estado preservado"TF

O indecomponível desejo de ser

Para se compartilhar o indecomponível desejo de ser, precisa antes de sentir sendo, ser para sentir, e se imaginar no mais indesejável caminho pro não-ser para assim já se fortalecer por sofrer já sendo o que nunca pediu pra ser. Esta inculpável resolução tem um infinito renome por ser tão rígida em sua concretização, que altera a interioridade de seres preenchidos de incertezas para se deslocarem de vez ao vazio como resposta aos seus sentimentos mal elaborados. Tudo que se vive vendo, é tudo que se vive sem sentir, é tão concreto ao ponto de torturar o desejo juntado-o a catastrófica realidade que se forra de inocência.
Quem vai ser a cobaia dos próprios sentimentos que de tão empobrecidos resolvem apodrecer?
Estes preferem morrer sem fazer uma auto-análise. Morrem e permanecem vivos, pois serão fonte de estudo para aqueles que choram pela busca de sentido da existência daqueles que se foram, acreditando assim que há destino e que há definições em nossas vidas, e eternas funções que simbolizam a conclusão de um fim puro.

Morte? Só pra quem acredita que vive!

A necessidade do amor

Chega até a doer nos ossos quando nos vemos prisioneiros da nossa própria incapacidadade de sentir, de amar sem interesse, de sentir sem nenhuma meta disfarçada. É comum ver interesses no "amor" nos nossos dias de decepção, e quando encontramos nele um inválido gesto de bondade. Não existe nada maior que o domínio do amor, não há nada mais relevante que a sua própria vontade de existir, de se fazer presente em nosso dia a dia conturbado, e em nossa imensa falta de noção sobre o que nos deixam realmente elevados diante da virtude da verdadeira compreensão humana. O amor é como o nosso sangue, circula por todo o nosso corpo e isso faz com a gente aja com ele nos momentos em que nossa vontade de sufocar a vida se encontra reduzida.

Não nos encontramos distante nunca desse desejo de posessão, sempre o nosso maior prazer é possuir a certeza que amamos e que podemos ser amados, e que enxergamos esse pensamento como um jogo de troca. O homem que não consegue nem amar e nem permitir ser amado, jamais funcionará como um humano, essa máquina que é a humanidade só funciona de forma correta se bem alimentada pela energia da aproximação que tem um gosto fraternal, pela liberdade de analisar a ordem natural das coisas como a extrema beleza que somos capazes de resgatar. O amor nos transforma nas melhores máquinas sentimentais, funcionamos movido a um sentimento, seja ele qual for, de ódio ou amor, desde que seja um sentimento.

A forma como valorizamos cada expressão externa é de extrema importância, aquele que consegue farejar a expansão do campo sentimental é capaz de fazer da vida uma grande obra de arte, e nela fará de tudo que puder para atrair segurança e conseqüentemente doar proteção. Assim como as idealizações, o amor também possui essa magnífica complexidade de nos entender idealizando sobre o que é o amor verdadeiro. É mais um método de comparação que nos invade, mas dessa vez com pretensão para o bem, mesmo que venha com outra aparência. Nos expandimos quando percebemos a nossa união, o nosso poder de entender que nossas forças são correntes que nos aprisionam junto com o nosso calor, com as nossas desenfreadas emoções.

Existem várias definições do que é o amor, há quem diga que o amor pode partir para um plano de violência que nunca cessa e que este é o verdadeiro amor, há quem diga que o amor é completamente egoísta e que quando dizemos que amamos é porque sabemos manipular. Há quem diga que o amor é apenas uma expressão que não se aproxima da realidade, da área que desenha nosso interior. Há quem diga que a ilusão possui uma ligação direta com a origem do amor, e que essa origem morre sempre que insiste em existir e há quem pense que o amor é uma riqueza impossível de se possuir, que vive apenas nos desejos rebeldes, nos desejos de quem se mostram como eternos sonhadores. Todos esses pensamentos sobre um sentimento são traumas vivenciados por acreditar no maior dos afetos como uma reunião de prazeres que nunca se acabam e que uma vez que é sentido trará sempre um luminoso acontecimento que chamamos sempre de milagre. O amor é o contrário de milagre, existe em intensidade e é tão comum quanto as tragédias.



"Quem quer ser artista, nunca será. Pois pra ser precisa de arte e arte não se procura, se vive!" TF
A inferioridade e a rebeldia das comparações

Concordar com a inferioridade é estranho, é estranho entender que somos divididos por estes tipos de classificações, e esta tamanha estranheza não deveria nem existir por esses caminhos de comparações. Todos possuímos a sede de reconhecimento, mas isto, não serve como uma proposta de se ganhar um crédito de superioridade uma vez que o reconhecimento é alcançado.
A desigualdade é nítida, mas não se trata de uma comparação que se calcula na dimensão em que se dá nomes ao que define com o que se eleva e o que faz declinar. Por diversos motivos que as agressões do homem com o mundo são vísiveis e não há nenhuma barreira, nada nos deixa cegos daquilo que se aproxima de uma atitude equivalente ao modo em que somos classificados, e na maioria das vezes são atitudes de rebeldia.

A rebeldia foge do convencional, é um novo comando interno agindo como uma ordem que não se pode deixar de cumprir. Nesse caso não se pode desmerecer a ordem interna, pois o próprio interior está convivendo com um conflito causado por toda a força externa, por todos aqueles que desprezam as vontades, e as consideram como inúteis e que não devem ser prosseguidas para dar sentido ao gosto dos limites criados por aqueles que temem aceitar a essência humana. A distorção do ser se aplica ao fato de existir as comparações, ao fato de que tudo que se modela tem todo o direito de separar aquilo pode ser visto como importante ou desprezível. A função de encontrar a necessidade dessa distinção de valores acaba sendo supervalorizada, acaba se tornando algo além de uma função, é uma meta que não se define, é o alicerce da distância do homem com a compaixão, é o começo da guerra dos valores, é a infinita procura pelo espaço doentio daqueles que ainda não se encontraram na vida.

A morte é o que nos tornam iguais.

A morte é a única coisa capaz de unir completamente os homens, tornando assim todos iguais. Não importa os valores quando conhecemos o fim da vida, todos sabem sobre esse destino, o único destino que temos certeza que vamos descobrir. A união que a morte proporciona é de tamanha intensidade, e passa pelo pleno convencimento de que todos possuem uma sentença, um ponto em comum e que este deve ser captado, aceito, e transferido para todos aqueles que admiram a eternidade e possuem a vontade de desejá-la sempre, como se o próprio desejo também fosse eterno e nunca sofresse alteração. O valor engrandece aqueles que estão convencidos de que possuem ua qualidade inatingível, mas estes, na verdade são os fracos da vez quando pensam que o valor é o embalo para se classificar como superior aos demais. O valor julgamos ter, sempre se encontra escondido dentro deles mesmo num absorver imaginário, num escapar eficiente da realidade.

Todo tipo de convencimento tem ligação direta com o entender interno, que se multiplica alcançando o orgulho e a estabilidade necessária. Seja o convecimento por um determinado valor que absorvemos por insistência e que achamos que ele nunca morrerá, ou seja, pela nossa própria idéia de que esse valor morre quando nós morremos. Existe uma perda intensa de força quando entendemos que nosso valor também irá morrer, e isso é um ponto principal para entedermos que nossas virtudes são apenas privilegiadas enquanto a existência nos possuir. Muitos acreditam na vida após a morte, e que quando chegarem ao plano espiritual continuarão vendo seus próprios valores em suas relações passadas, por pensarem que é nelas que todo o seu orgulho será depositado e absorvido com êxito.

Sempre nos procuramos nos dias de crise, e é exatamente nesses dias que algum tipo de convencimento nos devora, seja ele para um bem ou para um mal. A sombra da autoestima é pequena demais para se estabelecer como verdadeira, é uma espécie de tortura completamente inexplicável que a nós aparece para nos codificarmos da forma que interpretamos estes momentos. A definição do que é triste pode ser vista mais para uma caracaterística humana do que para um estado, mas a própria trsiteza também é capaz de se desfazer alguns momentos que nos encontramos aliviados por um sentido que nós mesmos criamos.Estes sentidos que criamos servem para distrair a tristeza, para atrair a perfeição do querer viver, do querer ser já sendo, e do querer existir já existindo. Esse convencimento de que a nossa maior busca é a ausência da tristeza é o que nos faz capaz de acrescentar em nossa fome pela sobrevivência um motivo a mais para se compreender a verdadeira meta do viver, que extrair dos desejos o máximo de prazer.

Devemos ignorar o valor como o conjunto da eternidade, e aceitar o divórcio de tudo que se forma essencial para existir comparações no mundo. A intolerância não deve ser amenizada quando a projeção da eternidade for mais efusiva que os nossos desejos do presente, porque viver a projeção da eternidade é desprezar o presente e inventar valores que desvalorizam a existência humana, pois esta projeção supervaloriza o homem ao ponto em que ele se torna centro da incerteza sobre a sua própria essência, sobre o seu verdadeiro motivo de continuar vivendo.


"O óbvio é para quem acredita que a razão nunca se modifica" TF